Nos últimos anos, o aumento da participação feminina na política brasileira tem sido um reflexo de um movimento histórico pela igualdade de gênero e por mais representatividade. No entanto, apesar das cotas eleitorais que garantem uma presença mínima de mulheres nos parlamentos, um fenômeno preocupante tem surgido: a violência política e o abandono pós-eleição têm afastado muitas mulheres do cenário político. Este problema se manifesta de diversas formas, como agressões verbais, físicas, ameaças e até mesmo o isolamento e desvalorização por parte de seus próprios partidos e colegas de bancada.
A violência política contra as mulheres é um tema alarmante, que se intensificou nas últimas eleições e se refletiu principalmente nas redes sociais e nos espaços públicos. Muitas mulheres que assumem cargos políticos enfrentam uma onda de ataques por parte de eleitores, opositores e até mesmo colegas do meio político. Essa violência não se restringe apenas ao campo físico, mas também atinge de forma severa a autoestima das mulheres, minando sua capacidade de atuação e afetando sua continuidade nos cargos que conquistaram. A repercussão desse fenômeno é devastadora, pois ele desencoraja novas gerações de mulheres a se engajar na política.
Além da violência explícita, outro fator que contribui para o afastamento das mulheres da política é o abandono pós-eleição. Muitos partidos, após as campanhas eleitorais, não conseguem garantir o apoio estrutural necessário para que as mulheres recém-eleitas desempenhem suas funções adequadamente. A falta de assistência financeira, apoio logístico e uma rede de suporte dentro dos próprios partidos contribuem para que muitas mulheres se sintam isoladas e incapazes de seguir adiante em suas carreiras políticas. Esse abandono é um reflexo de um sistema político que ainda não está suficientemente preparado para lidar com a inclusão feminina de forma plena.
As cotas eleitorais, que foram estabelecidas como uma forma de garantir uma representatividade mínima para as mulheres nos cargos eletivos, têm desempenhado um papel importante na promoção da igualdade de gênero. No entanto, elas sozinhas não são suficientes para assegurar a presença efetiva das mulheres na política. A simples exigência de uma cota não resolve os problemas estruturais que afetam as mulheres no exercício do poder, como a violência política, o abandono por parte de seus partidos e a falta de condições adequadas para o exercício de suas funções.
O impacto da violência e do abandono pós-eleição sobre a trajetória política das mulheres é profundo. Muitos estudos e pesquisas indicam que as mulheres são mais propensas a desistir de suas carreiras políticas do que os homens, justamente por enfrentarem obstáculos específicos que dificultam sua permanência no meio político. O medo de novas agressões e a falta de apoio institucional geram um ambiente hostil que faz com que muitas desistam de representar seus eleitores, enfraquecendo a democracia e a pluralidade política no país.
Para que a presença das mulheres na política se torne uma realidade duradoura e eficaz, é preciso que a sociedade como um todo se mobilize para enfrentar os desafios que surgem após as eleições. Além da implementação de políticas públicas que combatam a violência política de gênero, é fundamental que os partidos políticos ofereçam apoio contínuo às mulheres eleitas. Isso inclui, por exemplo, a criação de espaços de acolhimento, redes de apoio entre mulheres, além de treinamentos e capacitação para que elas possam atuar de maneira eficaz nos cargos que ocupam.
Outro ponto crucial é a conscientização da sociedade sobre a importância da inclusão de mulheres na política. A resistência que muitas mulheres enfrentam para se estabelecer nesse campo não deve ser tratada como uma questão isolada, mas como parte de um problema estrutural que precisa ser resolvido por meio da construção de uma cultura política mais inclusiva e respeitosa. Para isso, é necessário o apoio de todas as esferas da sociedade: do governo, das instituições educacionais, das empresas e da população em geral.
Em suma, a violência e o abandono pós-eleição afastam mulheres da política, apesar de cotas, e esse é um desafio que demanda soluções urgentes e integradas. As cotas eleitorais podem garantir a participação das mulheres no processo eleitoral, mas não são suficientes para garantir que elas consigam permanecer e atuar efetivamente em seus mandatos. É preciso um esforço conjunto para criar um ambiente mais seguro, acolhedor e justo para as mulheres no cenário político, garantindo que elas possam contribuir com suas ideias, perspectivas e propostas, fortalecendo a democracia e a representatividade em nosso país.