“A trajetória de um artista brasileiro que se confunde com a vida de quem sonha”: essa frase marca o trailer do filme “Quando a Luz se Apaga”, um dos vários conteúdos que Rodrigo Pereira, o Rodrigo Apresentador, publicou em seu canal no YouTube para contar sua história de sonhos, lutas e fascínio com a televisão.
Rodrigo Apresentador pode ser um nome ainda desconhecido para o público geral. No entanto, para quem é cronicamente online, a história deste artista de 35 anos marca a ascensão meteórica das “webcelebridades” no Brasil.
De cover da Xuxa a youtuber, ele conseguiu a proeza de, durante 12 anos, despertar a atenção de admiradores, haters e das páginas de acervos de memes. Mas afinal, quem é Rodrigo Apresentador? O que se pode adiantar é que, muito mais que uma personalidade de internet, trata-se de alguém que leva muito a sério o ofício de comunicar.
Veja + após o anúncio
Em conversa exclusiva com o Purepeople, às vésperas do lançamento de sua websérie “Divas Drags que Inspiram”, Rodrigo recorda detalhes de uma caminhada que já dura 22 anos. Conheça mais!
RODRIGO APRESENTADOR COMEÇOU COMO COVER DA XUXA AOS 13 ANOS
Rodrigo nasceu em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Como muitas crianças que viveram os anos 1990, ele era um apaixonado por televisão e se lembra com carinho de uma década de ouro do entretenimento brasileiro. “Com o Gugu e o Faustão, tinham domingos que você precisava ter duas TVs ligadas porque o ‘Domingão’ tava maravilhoso e o ‘Domingo Legal’ também”, recorda.
A primeira paixão televisa foi Angélica. “Eu devia ter uns quatro ou cinco anos de idade e eu achava a Angélica linda. Eu queria ter o cabelo da cor da Angélica, sabe? Essas coisas assim. Então, eu sempre gostei desse universo. Eu já brincava pequenininho de cantar, de dançar, de imitar as artistas”, conta.
Veja + após o anúncio
A trajetória artística de Rodrigo começa em 2002, aos 13 anos. Em uma brincadeira de escola, ele começou a imitar Xuxa e dublar outras artistas femininas, já com roupas que desafiavam os estereótipos de gênero. O trabalho se espalhou no famoso boca a boca e, logo, o menino começou a ser requisitado por outros colégios da região.
“Eu sempre digo que eu fui o artista transformista mais jovem do Brasil. Eu já dava os meus closes, já fazia as minhas performances. E eu acho que não há registro de outra artista transformista que começou tão cedo, né?”, diz.
Rodrigo conta que, por ser uma brincadeira de criança, não enfrentou grandes situações de preconceito no começo. “A gente tem aquele ar de menino, de criança. Então, as pessoas me viam assim como ‘ah, ele tá ali brincando, fantasiado’, entendeu?”, reflete.
Morador de Balneário Camboriú até os dias de hoje, Rodrigo afirma que precisou lidar com o conservadorismo da região na vida adulta, mas não faz disso um fardo. “Sempre fui afeminado. As pessoas me perguntam: ‘quando é que você descobriu que era gay?’. Eu nunca estive coberto, né? (risos). Então, eu não precisei descobrir nada. Eu tive essa questão de preconceito, mas isso nunca me chocou, nem me impactou ou me fez pensar ‘será que eu devo continuar ou desistir?’. Não, eu acho que o problema das pessoas é uma ignorância. E eu não posso compactuar com a ignorância das pessoas, né?”, dispara.
Rodrigo abandonou o status de estrela local em busca do sucesso nacional em 2012, quando ficou famoso na internet sob o nome de Rodrigo Xuxa. Na época, ele começou a vir para São Paulo e chamou atenção de fãs da apresentadora e de outros curiosos pela semelhança com a Rainha dos Baixinhos.
Com a popularidade na web, Rodrigo trocou as escolas do Sul por boates LGBTQIA+ em todo o Brasil, onde se apresentava dublando os grandes sucessos de Xuxa, dessa vez, para os “altinhos”.
“O figurino já tinha um apelo mais sensual, nada vulgar. Foi bem na época do ‘TV Xuxa’ em que ela estava usando umas sainhas, uns vestidinhos curtinhos, umas coisas assim, umas botas imensas até o joelho e aqueles cílios mais volumosos. E aí eu mudei um pouco”, descreve.
Do sucesso nas boates, Rodrigo também tornou-se requisitado entre os programas de televisão. Na RedeTV!, participou do “Superpop”, do extinto “Manhã Maior” e deu um selinho em Hebe Camargo em uma das últimas gravações da estrela. Foi convidado de “Eliana” no SBT, de Marcos Mion no “Legendários”, da Record TV, e chegou a recusar aparições em outras atrações por falta de disponibilidade.
“Eu sempre fui muito apaixonado por televisão, então, o fato de eu estar indo nas emissoras, conhecer, viver aquele mundo, aquele universo, sabe? Eu ficava prestando atenção em cada momento, em cada cantinho. Por realmente ser muito apaixonado por televisão, eu vivi, me deliciei muito nessa fase”, lembra com carinho.
Rodrigo abandonou a persona Rodrigo Xuxa em 2015 para se dedicar a seu canal no YouTube e realizar o sonho de ser apresentador. Durante anos, falar sobre o assunto parecia um tópico delicado para o artista. Ele, no entanto, afasta qualquer possibilidade de renegar o passado.
“Eu precisei dar um tempo, me desintoxicar. Eu falo essa palavra, mas não de uma maneira pesada. Eu quis me desintoxicar desse universo Xuxa para buscar um novo caminho, buscar uma nova persona e criar a personalidade do Rodrigo, o apresentador. Foi necessário isso. Eu precisei disso para construir o Rodrigo Apresentador. Não é que eu arranquei essa página, não. Eu virei essa página e comecei a escrever uma nova história. E eu acho que as pessoas não entenderam direito no começo. Acho que, hoje, não é nem que eu fiz as pazes, as pessoas que entendem melhor o meu ponto de vista”, justificou.
‘RODRIGO SHOW’: NO YOUTUBE, RODRIGO REALIZA O SONHO DE SER APRESENTADOR
Após deixar os palcos, Rodrigo fundou o próprio programa, o “Rodrigo Show”. Feito nos moldes dos tradicionais programas da televisão, ele mostra seu guarda-roupa, homenageia suas inspirações, faz receitas e até publica documentários sobre a própria trajetória. Atualmente, ele disponibiliza dois novos episódios por semana no YouTube.
Com Rodrigo no comando de quase todas as funções do programa, ele leva, em casa, uma rotina de uma emissora de TV. “É uma produção muito grande e um custo de produção muito alto. É trabalho muito grande, porque não é só a gravação, é edição, é postar… Daí você tem que fazer o recorte para o TikTok, para o Instagram, a foto do programa vai ao ar que tem que postar no dia… Eu não paro um minuto”, celebra.
Agora, Rodrigo se prepara para o lançamento da série “Divas Drags que Inspiram”, que vai contar a história de oito drag queens famosas na cena LGBTQIA+. Nomes como Silvetty Montilla, Penelopy Jean e Dimmy Kieer estão confirmados na produção, que chega ao canal nesta sexta-feira (28).
“Estão incríveis, estão lindas as histórias. Tanto que são oito perguntas que eu fiz para todas elas e as respostas são incrivelmente diferentes e, ao mesmo tempo, se confundem umas com as outras”, adianta Rodrigo.
O lançamento é uma nova versão do quadro “Divas que Inspiram”. Lançado em 2019, o conteúdo se tornou meme graças a um corte em que ele fala sequencialmente o nome de todas as homenageadas – Adriane Galisteu, Joelma e Mara Maravilha são algumas delas – em um fundo prateado. “Esse meme repercute até hoje. Tanto que ele virou um comercial do Burger King que eu fiz graças a esse meme. Ou seja, realmente foi um divisor de águas, foi uma coisa que me projetou”, comemora.
Com mais de 30 mil inscritos e status de ícone da web, Rodrigo reflete sobre como a repercussão de seu trabalho na internet transformou o sonho daquele menino que só vislumbrava a televisão. “Eu tenho um desejo muito grande de trabalhar na TV ou que seja na produção. Gostaria, sim, de ter espaço na televisão. Mas eu acho que aí é que vem uma controvérsia. Eu acho que quem está na internet não precisa mais da televisão, muito pelo contrário. A TV que vai ter que se adequar à internet para não perder o seu espaço, né? Mas eu acho que eu tô bem feliz com o crescimento do canal”, conclui.