Claudia Ohana encarna inquieto Diabo em ‘Dom Quixote de Lugar Nenhum’: ‘Fico encurvada no musical’

Jonh Tithor By Jonh Tithor

Claudia Ohana, de 60 anos de idade, gosta de personagens desafiadores. Principalmente quando eles envolvem profissionais que ela admira, como o cineasta, poeta e dramaturgo Ruy Guerra, de 92, [com quem tem uma filha, Dandara Guerra, de 39], o diretor, encenador e cineasta Jorge Farjalla, e a fotógrafa Simone Kontraluz, como é o caso do musical Dom Quixote de Lugar Nenhum, que estreia nesta sexta-feira (2), no Teatro Casa Grande, no Leblon, bairro na Zona Sul do Rio.

“O texto do espetáculo é do Ruy [Guerra] e quem produz é uma grande amiga minha, que é a Simone [Kontraluz]. Eu já queria trabalhar junto com o Farjalla há algum tempo. A Simone me apresentou a ele. E aí eles me chamaram para fazer [o musical] e eu nem li o texto, nem sabia direito o que eu ia fazer”, conta.

Enquanto é maquiada pela produtora de figurino e caracterizadora Joana Seibel para mais um ensaio acompanhado com exclusividade por Quem antes da estreia da peça, Claudia se diverte ao lembrar do dia em que soube que papel interpretaria no musical.

“Você é o diabo! [disseram a ela] Ok, sou o diabo! (risos) Eu sou assim, às vezes eu escolho o trabalho pelo pacote, né? Pensei: ‘vou fazer o diabo toda de vermelho, maravilhosa!’. E o Farjalla me disse: ‘mas não é isso’. O diabo é um capeta danado”, lembra, rindo.

“Mas fico encurvada no musical, com a perna flexionada, andando bem troncha… Fisicamente é exaustivo. Mas não tem idade: ‘vai lá, filha, se arrasta, se joga. É uma loucura, mas, quanto mais você trabalha, mais energia você tem”, garante.

Brasilidade
Inspirado pela clássica obra de Cervantes, o espetáculo canta a saga do herói Queixada (Lucas Leto) agora pelo interior do Nordeste e coloca pela primeira vez um ator preto neste papel. Lá — ou em lugar nenhum, como sugere o título —, ele inicia uma batalha para transformar seu próprio mundo em um espaço menos triste e ainda encontrar a musa Dulcineia (Dani Fontan) que nunca conheceu.

Claudia Ohana encarna um inquieto diabo e, segundo o diretor Jorge Farjalla, representa o feminino libertador. “Desmembrei a personagem do Sancho, que na obra do Ruy era o diabo, para trazer uma dualidade ainda maior para a história. Essa personagem atua num lugar de consciência para o Dom Quixote. E é também uma homenagem a ela, musa do Ruy dentro e fora da ficção”, explica Farjalla.

A atriz não trabalhava com Ruy desde 1989 [no filme Kuarup] e reconhece que está vivendo uma experiência para lá de singular no palco. “Não trabalhávamos juntos há muito tempo. E o Ruy tem vindo sempre aos ensaios. Ele está empolgado. Para mim está tendo gosto de passado e futuro, uma coisa jovem e velha, é muito bonito. O relacionamento profissional que temos é ótimo. Sempre fomos amigos. O Ruy é minha família”, derrete-se ela.

Para Claudia, participar da trupe de saltimbancos que integra o espetáculo, com 10 atores que cantam e tocam instrumentos se desdobrando em vários personagens em cena, tem sido bastante especial e transformador. “Fazemos tudo em grupo. É a primeira vez que estou em cena o tempo todo, que toco instrumento [ukulele], mudo de personagem”, justifica.

No musical, a atriz ainda mostra um lado cômico que nem todos conhecem. “Eu já fiz comédia, mas não comédia mesmo, de improvisação. E é uma coisa que o Farjalla está descobrindo em mim, está puxando esse meu lado na peça”, destaca.

“Ao mesmo tempo, eu falei para ele: ‘sabe quem fala sempre que eu devia fazer comédia? O Ruy’. Ele sempre falou porque eu na vida sou aquela engraçadinha da família, sabe? (risos). Ele sempre falou também: ‘Claudia, você tem que tocar, você tem que tocar. Tem que fazer palhaçada e tocar [algum instrumento musical]”, acrescenta.

Share This Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *